REVISITANDO A QUINTA ESSÊNCIA?
O porquê da Quinta Essência
Revisitar é uma ação nem sempre bem entendida. Não é apenas tornar a comparecer ou fazer-se presente muitas vezes. A ideia é mais abrangente. É como um repensar conceitos, explicar aos irmãos e amigos, parece mais como reconhecer um sagrado e especial lugar.
A Quinta Essência, é como parte indispensável do processo evolutivo do ser humano, sempre presente e em permanente ação, como um software em segundo plano.
Sempre somos chamados a laborar, seja aparando os ângulos do que ainda não se encaixa, ou seja polindo-os de maneira a tonar possível a sua utilização na construção ou reconstrução da vida. A construção pretende ser justa e perfeita. Estamos falando do aperfeiçoamento moral e espiritual, de algo que se torna fonte de luz e calor, exemplo e inspiração para todos!
A Quinta Essência pode ser absorvida por intermédio da contemplação e assimilação conceitual do Delta Luminoso e da Estrela Flamejante. O entendimento de seu simbolismo é essencial para colocá-los em prática, sob pena de não se estar adequadamente preparado para subir a novo degrau na Escada de Jacó. São símbolos que representam o Divino e a divindade do homem, a perfeição dos sentidos humanos, a inseparável dualidade entre matéria e espírito, os quatro elementos da tradição iniciática (terra, ar, fogo, água) e o sua conexão (o Um, o Éter), o homem evoluído com poderes psíquicos e desprovido de vaidades, o fogo sagrado que abrasa a alma de todo homem.
O simbolismo desta Quinta Essência, bem como a sua presença e seu entendimento, são elementos indispensáveis na evolução dos homens e, ainda mais em particular, na construção do templo interior de cada maçom.
Quinta-Essência, segundo Houaiss (2009), é assinalada como o essencial, o mais puro, o melhor ou o principal de alguma coisa. É o elemento de caráter puro, dominante e essencial.
A ideia de Quinta Essência também remonta a Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), identificada como o elemento etéreo que compõe as esferas celestes, distinto em sua quase imaterialidade das quatro propriedades naturais (terra, água, fogo e ar) que constituem os corpos densos no mundo sublunar.
O SER e a VIDA são visualizados na ideia de Quinta Essência:
O SER se manifesta unicamente pela ação, não agir equivale a não existir, porque aquele que existe está perpétuo ao trabalho. NADA É INERTE, nada é morto, tudo vive: os minerais e os corpos celestes, os vegetais e os animais.
A VIDA, entretanto, difere de um a outro reino da NATUREZA, ela hierarquiza-se em toda parte, segundo às espécies e, segundo os indivíduos.
Assim é que, entre os HOMENS, uns vivem uma VIDA ELEVADA e mais completa que outros. Essa VIDA, de uma ordem superior à comum, é proporcional ao desenvolvimento do princípio da PERSONALIDADE, porque caso contrário, sua vida permanece material ou elementar, resultando unicamente da LUTA DOS ELEMENTOS que se opõem dois a dois.
Elementos da Quinta Essência
Concepção e acervo do autor
Daí se infere que o AR, leve e sutil abranda, contrabalançando, a ATRAÇÃO DA TERRA, espessa e pesada, que embrutece e materializa. Fria e úmida, a ÃGUA contrai aquilo que o FOGO, seco e quente, tende a dilitar. Estes elementos, que não mais podem ser considerados corpos simples, como na antiga teoria, devem, entretanto, ser tidos como agentes coordenadores do MUNDO MATERIAL. Foi por sua aplicação, que se explicou o caos, por isso, eles dominam tudo quanto é material.
É por este motivo que o HOMEM deve criar e desenvolver, em si próprio, um princípio mais forte que os ELEMENTOS, com os quais entra em LUTA, nas PROVAS INICIÃTICAS. O que triunfa, então, é o HOMEM, propriamente dito, que domina o ANIMAL, de maneira que, cinco impõe-se ao quatro, "a QUINTA ESSÊNCIA prevaleceu sobre o QUATERNÃRIO DOS ELEMENTOS".
Em determinado momento, o Irmão toma consciência de que deixará de trabalhar a Força e passará a ocupar-se da Beleza da construção de seu templo.
Hiram Abiff, na idealização do Templo de Salomão, previu a colocação de duas colunas externas denominadas Booz e Jaquim. Atualmente, estas colunas estão representadas em todos os templos maçônicos como as Colunas "B" e "J", posicionadas externamente em alguns templos e internamente em outros. Adicionalmente, conforme nos descreve o Ir Anestor Porfirio da Silva em seu artigo "Os Sete Cavaleiros do Templo de Salomão", mais sete pilares foram colocados no interior do templo, sendo que três deles representavam simbolicamente a Sabedoria, a Força e a Beleza, que eram tidas como "as luzes libertárias da consciência humana em relação às trevas da ignorância".
Homem trabalha a pedra bruta Acerco do Autor |
Os quatro demais pilares interiores, cujo conhecimento não se tem ao certo, poderiam estar relacionados ao Quaternário, que pode significar as quatro expressões da vontade humana (saber, querer, ousar, calar), ou o quaternário geométrico (círculo, cruz, triângulo, quadrado), os quatro pontos cardeais ou os quatro elementos da natureza (terra, ar, fogo, água).
Adotando-se a teoria de que tudo é formado a partir dos quatro elementos da natureza, encontramos aqui a primeira explicação para o número cinco, que resulta da soma destes quatro elementos primários com o elo de ligação entre todos os números — o número um. Assim, o número cinco é aquele que apresenta o advento da energia, o fundamento da divindade, capaz de manter a vibração dos demais elementos, também chamada de "a quinta-essência".
Rizzardo da Camino, em sua obra "Simbolismo do Segundo Grau", nos diz que "o quadrado é a expressão do quaternário, síntese da natureza: é a imagem de um templo perfeito, representando o templo de Salomão". Como símbolo da natureza, o quaternário atribui certa limitação e definição, constituída que é por três princípios ativos: atividade, resistência e ritmo. Não coincidentemente, estas três qualidades são representadas pelo enxofre, sal e mercúrio, respectivamente. Argumenta que, depois do círculo, o quadrado é a figura plana mais perfeita, pois com seus lados iguais têm-se que a soma dos seus ângulos reproduz os 360° da circunferência.
Assim, temos que a união do ternário (triângulo) com o quaternário (quadrado) forma a pirâmide, tida como o perfeito quinário, a construção perfeita, social e humana, a pedra Cúbica. Nesta interpretação, tem-se o vértice superior como representação da "quintessência", o princípio que deu origem ao Universo, o verbo inteligente. Este elemento nos faz passar do domínio da matéria ao da vida. É o elemento espiritual que impulsiona o homem à ação, sendo o espírito, neste caso, a presença do GADU na mente do homem.
A conjunção dos quinários, conforma cinco conceitos direcionadores, conhecidos como pensamento, consciência, inteligência, vontade e liberdade, apontando para a plenitude do conhecimento de modo a atingir a QUINTAESSÊNCIA.
Nosso Ir Fernando Furtado Barreto, em seu trabalho "A Estrela Flamejante", nos apresenta que sua origem está ligada à magia e que, sendo a Maçonaria uma obra de luz, o vértice da Estrela está apontado para cima, símbolo da magia branca, do microcosmo. Ao representar a figura de um homem em pé, pernas separadas, braços em cruz — o emblema do Iniciado —, o homem como réplica do macrocosmo, tem-se um pequeno universo em si mesmo. Conclui sua interpretação argumentando que ela é a saída das trevas, e que seus raios luminosos mostram o caminho da luz, evidenciando a paz e o recolhimento do templo, no qual serão carinhosamente recebidos todos os Maçons |
A perfeição da criação do homem foi também ilustrada por um dos maiores gênios da humanidade. Leonardo da Vinci representou esta perfeição através de seu desenho conhecido como "O Homem Vitruviano" (figura à esquerda). Sua obra deriva de estudos do arquiteto romano Marco Vitruvio, que já havia tentado descrever as proporções humanas, mas foi Leonardo quem alcançou a perfeição matemática, ilustrando a figura humana em toda a sua perfeição geométrica ao inseri-la em um quadrado e um círculo. |
Assim, tendo o círculo o simbolismo da divindade e o quadrado o da sua manifestação na matéria, a ilustração nos remete à integração do homem com o Divino, à relação do homem com o Universo, sendo a cabeça o elemento da razão, que dá entendimento a todo o conhecimento adquirido.
Pitágoras, ilustre filósofo da Grécia antiga, dava aos números imensurável importância, e através deles estudava e compartilhava seu conhecimento em diversas artes. Admitia a existência de uma grande Unidade, da qual emanava o próprio mundo, e explicava sua formação a partir dela, com a seguinte lógica: da unidade, representada por um ponto, seguiu-se o número binário, representado por uma linha. Dele seguiu-se o número ternário, representado por uma superfície. Veio então o quaternário, representado por um sólido, e assim sucessivamente. Sua escola também reconhecia na alma duas características fundamentais: a paixão e a razão. Entendia que as paixões deviam ser comandada pela razão, criando harmonia, que também chamamos de virtude.
O Pentagrama nos remete ao número cinco. Cinco são as pontas da Estrela Flamejante. Cinco é um número simbólico por exclência! Cinco toques, cinco luzes, cinco anos e por aí segue. Cinco também são os elementos que permitem que a vida floresça no homem, sendo o quinto elemento a sua essência, o seu espírito, aquele sem o qual o homem não passa de matéria inerte. Como já dito, é a presença divina no homem. A Quinta Essência é o elo que une o Espírito Divino à matéria, assim como o homem une Deus com a natureza.
Interessante observar que a presença divina é representada na Estrela Flamejante pela letra "G". Geometria, Geração, Gravidade, Gênio e Gnose. A literatura descreve outros simbolismos para a letra "G". No plano espiritual, a letra "G" apresenta-se como o poder de expressão. No plano mental, sintetiza a tríade formada pelo espiritual, mental e físico. Já no plano material, nos remete à própria natureza humana, com seus desejos, ideias e ações.
De maneira geral, considera-se a letra "G" como sendo a representação do GADU, com todos os nomes que lhe podem ser conferidos. Para os cristãos, Deus. Para os deístas, é o criador de todas as coisas. Para os espiritualistas, a inteligência suprema, alma e motor do mundo. Para os filósofos humanistas, a consciência coletiva da humanidade. Certo é que todos concordam na existência de uma força superior, sem a qual não seria possível o equilíbrio indispensável entre os elementos da natureza, equilíbrio este que cria as condições necessárias para que floresça a vida.
Albert Einstein, tido como um dos mais brilhantes físicos de todos os tempos, disse: "cada descoberta nova da ciência é uma porta nova pela qual encontro mais uma vez Deus, o autor dela".
A VERDADE E A LUZ
Na caminhada em direção à verdade e à luz, o ser humano deve extrapolar os limites dos elementos conhecidos, buscar além do ar, da terra, do fogo e da água. Pois é através da busca e do reconhecimento do espírito, da divindade humana, que ele se libertará das trevas internas, elevando-se da sua condição material à espiritual, simbolizada no templo pelo brilho e calor emanados pela Estrela Flamejante.
William James, norte-americano, médico, filósofo e um dos fundadores da psicologia moderna, cita em seu livro experiência religiosa: "O mais belo livro está em nós mesmos; o infinito revela-se nele. Feliz daquele que nele pode ler". Assim, ele resume perfeitamente, e em poucas palavras, a busca conhecimento pela verdade, pela beleza e pela iluminação.
Que a verdade e a luz sejam sempre revisitadas pelos que já tenham em seus olhos a poeira desta mesma estrada. Necessário, sempre, reencontrar as marcas digitais e as pegadas nestes mesmos degraus, que, em algum momento chegamos a galgar. Reflitamos, pois, se é ou não o caso de revisitarmos a "Quinta Essência"!
Se este objetivo foi alcançado, ao menos parcialmente, posso me dar por satisfeito e com minha missão cumprida. Por fim, e uma vez cumprida a missão, agradeço a todos os IIr a paciência e a atenção que me dispensaram até agora.
Ir. ALBANI BEZERRA COSTA JÚNIOR é Mestre Maçom iniciado na Loja Miguel Archanjo Tolosa
REFERÊNCIAS
1 ADOUM, Dr. Jorge. Grau do Companheiro e Seus Mistérios. São Paulo: Pensamento, 1994.
2 HOUAISS, Antõnio. Dicionário Eletrônico, Ed Objetiva Ltda, 2009
3 BARRETO, Fernando Furtado. A Estrela Flamejante. 1993.
4 CARVALHO, Luiz Henrique Sousa de. O Simbolismo do Número 5 no Grau de Companheiro. 2013.
5 CASTELLANI, José. Cadernos de Estudos Maçônicos Vol. 2: Consultório Maçônico. 1" ed. Londrina: A Trolha, 1987.
6 _____________. Cadernos de Estudos Maçônicos Vol. 11: Encontro Nacional ia ed. Londrina: A Trolha, 1996.
7 CORNELOUP, J. Schibboleth. Paris: Éditions Vitiano, 1965.
8 DA CAMINO, Rizzardo. Simbolismo do Segundo Grau: Companheiro. São Paulo: Madras, 2006.
9 FACHIN, Luiz. Virtude e Verdade: graus simbólicos: Tomo I. ia ed. Porto Alegre: AGE, 2015 OBREIROS EM AÇÃO. Florianópolis: Regeneração Catarinense, 1° volume, 1996.
10 RITUAL 2° GRAU — COMPANHEIRO MAÇOM: Rito Escocês Antigo e Aceito. Brasília: Grande Oriente do Brasil, 2009.
11 SILVA, Anestor Porfirio. Os Sete Cavaleiros do Templo de Salomão. JB News, Florianópolis, n. 2319, p. 17-19. Disponível em wwwjbnews33.com.brilnfonnativos. fev. 2017.
12 SILVEIRA Luiz. A Teoria da Dualidade: Uma tese Holistica ao Alcance de Todos. O Autor, 1999