COMO, COM A NOSSA FORMAÇÃO MAÇÔNICA, PODEMOS INCENTIVAR AS PESSOAS EM NOSSO MEIO A LAPIDAREM SUA PEDRA BRUTA?
Primeiras indagações
Durante o seu contínuo processo de aprimoramento, o Maçom é exortado a assumir posturas que o permitem aplicar seus conhecimentos obtidos nas mais diversas situações.
Não raro, indagações das mais variadas – sejam elas de cunho pessoal ou postas por terceiros – o instigam a formular respostas objetivando, assim, a busca por soluções adequadas àquelas demandas que lhes foram apresentadas.
Como, então, com a nossa formação maçônica, podemos incentivar as pessoas em nosso meio a lapidarem sua pedra bruta? É o que procuraremos responder nas próximas linhas!
A Formação Maçônica.
"A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria. Pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade. Seus fins supremos são LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE." (Ritual do 1º Grau, pág. 103).
Embora a resposta à pergunta formulada "como, com a nossa formação maçônica podemos incentivar as pessoas em nosso meio a lapidarem a sua pedra bruta?" seja aparentemente simples (e aqui, tomando por empréstimo do mundo profano o ensinamento do Professor Emérito Miguel Reale em sua obra intitulada "Lições Preliminares de Direito" ao citar a afirmação feita pelo pensador contemporâneo Martin Heidegger de que "toda pergunta já envolve, de certa forma, uma intuição do perguntado" – Pág. 1), é necessário que se busque uma integração do significado e do sentido dados pelo questionamento trazido acima em face da própria natureza da formação dos integrantes da Ordem Maçônica.
Diferentemente de qualquer outra formação instrumental, o que é vivenciado na senda maçônica por meio do Processo Iniciático e de profundo estudo e investigação, visa o aprimoramento gradual (Lapidação) do Maçom (o Ser) em suas formas manifestadas ou dimensões existenciais (Espiritual, Moral e Física). Esses resultados são obtidos a partir dos estudos e práticas do que prega a doutrina maçônica, e estes são transformados em experiências que – a princípio – dão causa ao processo de mudança daquelas formas ou dimensões, "materializando-se" como aprendizados, buscando alterar, dessa maneira, suas atitudes comportamentais.
Assim, levando-se em conta a sua essência institucional (iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista), como consta da Declaração de Princípios da Maçonaria Universal, a Ordem pode fomentar o aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade por meio de seus integrantes, recomendando-os a divulgação de sua doutrina pelo exemplo e pela palavra e lhes determinando que "estendam e liberalizem os laços fraternais que os unem a todos os homens esparsos pela superfície da terra" (Ritual do 1º Grau, págs. 103 e 104 – Grifo nosso).
Logo, observadas essas peculiaridades que envolvem a formação do Maçom e suas práticas, deduz-se inicialmente a importância da necessidade de primeiro "lapidar-se a si mesmo" para, então, prestar esse mesmo auxílio em forma de incentivo às pessoas em nosso meio.
A Pedra Bruta e o seu Lapidar.
"Uma "Pedra" sem forma que deve ser "trabalhada", a partir das "Luzes recebidas no Templo", "trabalho" esse que, sobretudo, se transformará em uma "árdua tarefa Moral e Espiritual" a ser cumprida em todos os dias, por meio do "importante, exaustivo e eterno Aprendizado". (D"ELIA JUNIOR, Pág. 309).
A Pedra Bruta (elemento simbólico agregado aos ensinamentos da Ordem) assume a figura representativa do marco inicial do trabalho no primeiro estágio do iniciado nos augustos mistérios. Agora, na condição de Aprendiz Maçom, o novo integrante dos Quadros da Ordem Maçônica tem a oportunidade de experimentar os primeiros passos no poder do processo transformativo de si mesmo.
No decorrer deste processo e munido de seus "instrumentos iniciais" (Maço, Cinzel e Régua de 24 polegadas), o neófito é exortado à "lapidação" de suas "imperfeições interiores". Na medida em que avança, cria-se em sua consciência um senso de auto percepção que o conduz a uma nova forma de reflexão sobre si mesmo e sua relação com o "mundo profano" a sua volta.
É no experimentar dessas novas perspectivas sobre o desenvolvimento da percepção de si que, o até então Maçom na condição de Aprendiz, permite o desbastar de suas "arestas" e de seu "formato grosseiro", dando-lhe uma "nova forma". Ainda que lhe seja árduo e duro o trabalho, são aquelas sensações experimentadas que nutrem o seu desejo de permanecer firme diante dos acontecimentos adversos e intempéries aos quais estão sujeitas todas as construções, fortalecendo-lhe moral e espiritualmente e, com efeito, fazendo-o avançar.
Essas formas de obtenção de autoconfiança conquistadas nessa fase inicial são vitais e servem de estímulo para a bem-sucedida aquisição dos "novos progressos na maçonaria", progredindo no seu eterno caminho de aprimoramento pessoal.
Incentivando pessoas
"Vosso novo Grau servirá para lembrar-vos que o Comp? é destinado a reparar as imperfeições dos edifícios, tendo todo o cuidado, não só em tolerar os defeitos de seus IIr?, mas também corrigí-los, dando-lhes bons exemplos e conselhos." (Ritual do 2º Grau, pág. 87).
O Ser Humano vive em constante evolução. E nesse processo de aperfeiçoamento que ocorre durante seu período de vida, tem a oportunidade de vivenciar situações e circunstâncias que o obrigam a refletir sobre os valores morais e suas virtudes, entre as inúmeras questões que lhe são postas diante de seus olhos. Ocorre que em muitas delas isso nem sempre é muito claro, visto que há uma mistura de sensações e emoções (por vezes contraditórias) envolvidas em todas essas dinâmicas que acabam por lhe impedir de dar novos passos em direção ao seu autoaperfeiçoamento.
É nesse cenário que o Maçom observando e percebendo o contexto no qual se encontra inserido (e se assim desejar) pode agir de maneira elegante, discreta e sutil, utilizando-se de todas as suas habilidades conquistadas na "Arte Real", intervindo na realidade vivenciada pelas pessoas que habitam o seu círculo de convívio (desde que o outro permita!).
Assim como um Arquiteto que desenha, projeta e supervisiona os trabalhos de edificação desde as menores, singelas e mais simples construções até as maiores e mais sofisticadas obras que a engenharia concebe, ele auxilia aqueles que buscam, por discernimento, orientação e lucidez para os dilemas e vicissitudes que a vida impõe.
Por se encontrar firme no propósito da busca incansável do seu permanente amadurecimento interior, pode ele atuar como um farol que orienta uma embarcação em alto-mar. E mais do que o simples incentivo, motivá-las para agir de maneira firme sobre aqueles dilemas e questões até então presentes na vida das pessoas que o cercam e dos seguimentos sociais aos quais convive.
E perante a Ordem Maçônica ele cumpre seu papel na condição de "Pedra Angular" estendendo e liberalizando os laços fraternais que os unem a todos os homens esparsos pela superfície da terra e, com isso, não se tornando uma "Pedra de Tropeço".
Finalmente
"Foi através de um amigo que depois reconheci como irmão!"
Desde seu ingresso na Ordem Maçônica – seja por indicação de algum membro ou pela sua livre iniciativa através do novel processo de Manifestação de Interesse, implementado pelo GOB a partir de 2019 – o Maçom se torna um importante fomentador do processo de mudança, seja ela pessoal ou coletiva.
É pela aquisição do conhecimento que é obtido através de seus estudos e da aplicação daquilo que é aprendido em si mesmo que o capacitam, tornando-o meio para utilização da formação maçônica na lapidação da Pedra Bruta das pessoas que o cercam, contribuindo assim para a disseminação dos princípios universais maçônicos.
Por oportuno, informo que em nenhum momento tive a pretensão de esgotar o assunto, que é tão rico e abrangente!
EDUARDO IGNACIO, Mestre Maçom
Referências
D"Elia Junior, Raimundo. 100 Instruções de Aprendiz. 9ª. Ed. Editora Madras, SP: 2019.
_______. 50 Instruções de Companheiro. Editora Madras, SP: 2022.
O Mito da Caverna de Platão – Disponível em https://www.estudopratico.com.br/mito-da-caverna-de-platao/ . Acesso em 10 jan 23.
REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito. 25ª. Ed. - Editora Saraiva., SP: 2002.
Ritual do 1º Grau: Aprendiz-Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito - Grande Oriente do Brasil, SP: 2009.
Ritual do 2º Grau: Companheiro-Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito - Grande Orien-te do Brasil, SP: 2009.
Fonte: Loja Miguel Archanjo Tolosa