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Mar de Bronze

Mar de Bronze, um lugar incerto

O Mar de Bronze exerce a função de purificação pela água nas iniciações. Ele já esteve posicionado em diversas posições nos templos.


Ilustração do Mar de Bronze

Mar de Bronze, um lugar incerto

No ritual de iniciação, a segunda viagem é marcada pela prova da água visando purificar o corpo do neófito para poder ser aceito na Maçonaria. O simbolismo consiste em limpar ou libertar o espírito humano de suas arestas e imperfeições morais, tornando seu pensamento límpido e liberto do negativismo e da descrença.

Este trabalho tem a intenção de demonstrar a importância do Mar de Bronze para o iniciado baseado em textos da na Bíblia Sagrada Cristã e no Tanakh Judeu, complementado por fatos descritos em literatura mencionada na bibliografia.

A construção da Casa do Senhor, que visava dar um lugar fixo para o Tabernáculo (utilizado desde o Egito até o reinado do Rei Davi), sempre esteve no pensamento deste por inspiração Divina, e este guardando os materiais necessários para a sua construção. No entanto, apesar de o G?A?D?U? ter se contentado com a ideia de Davi, Ele disse a Davi que como ele havia derramado muito sangue em batalhas, esse privilégio seria do seu filho e herdeiro Salomão.

No quarto ano do reinado do Rei Salomão (por volta do ano 482 para os judeus e 1012 A.C. para os Cristãos), filho de Davi, e terceiro Rei de Israel, deu início a construção da Casa do Senhor ou como mais conhecido o Templo de Salomão, que demorou aproximadamente sete anos e meio para a sua conclusão (1Rs 6 – 1,38), com um custo estimado de 108.000 talentos de ouro, 10.000 soldos de ouro e 1.017.000 talentos de prata (1Cr 22-14).

A Casa do Senhor foi erguida sobre o Monte Moriá, no exato lugar que tinha sido mostrado a Davi pelo G?A?D?U? na eira de Ornã, o jebuseu; e onde Abraão teria levado seu filho Isaac para oferecê-lo em holocausto, sendo Isaac salvo por um anjo do G?A?D?U? que proveu um cordeiro para ser oferecido em seu lugar.

Para isso, solicitou ao Rei da Fenícia (Tiro) Hiram, para que pudesse ajudar com madeira e trabalhadores para a construção do Templo, pagando o que for necessário para a construção. O Rei Salomão escolheu cerca de trinta mil obreiros em todo o Israel, que ele enviava ao Líbano em número de dez mil por mês para trazer os materiais necessários para a construção. Para efetuar os trabalhos em cobre e ornamentos, veio de Tiro o arquiteto-fundidor Hiram Abiff para que realizasse os serviços necessários às obras do templo.

Hiram Abiff era filho de uma mãe viúva israelita da tribo de Neftali e pai fenício (1Rs 7 – 13). Coube a ele planejar e construir várias partes do Templo e entre outras grandes obras o Mar de Bronze, assunto deste trabalho.

O Mar de Bronze, assim como o Altar dos Sacrifícios e as dez pias móveis ficavam localizados no pátio do Templo.

Segundo descrito em vários textos da Bíblia Sagrada Cristã e do Tanakh Judeu, o Mar de Bronze veio suceder na Casa do Senhor a ser construída, a Bacia ou Pia de Bronze (Ex 30 -18) que era utilizado no Tabernáculo (Ex 26 -1) que consistia num santuário portátil utilizado durante o Êxodo até os tempos do Rei Davi para guardar e movimentar a Arca da Aliança. A Bacia de Bronze ficava no pátio do Tabernáculo entre o Altar dos Sacrifícios e o Santo Lugar e era utilizada para o ritual da lavagem das mãos e dos pés.

Para a Casa do Senhor, o Rei Salomão ordenou a construção do Mar de Bronze ou Mar de Fundição (1Rs 7 – 23). Este trabalho ficou a cargo de Hiram Abiff, com mais artesões e forjadores de bronze, seguindo as especificações do Rei Salomão. Possuía uma grande pia de bronze, perfeitamente redonda com dez côvados de uma borda à outra, com a altura de cinco côvados e com um cordão de trinta côvados cingindo ao seu redor, tinha a grossura de um palmo e sua borda era como a de um copo ou uma flor de loto ou lírio (conforme versão da tradução). Abaixo da sua borda, havia botões que o circundava por dez côvados, sendo estes botões fundidos juntamente com a mar. O mar era feito de uma só peça de bronze, e o método utilizado para obtenção de objetos de bronze é o da cera perdida, é isso prova a grande precisão de Hiram Abiff e seus artesões metalúrgicos na grande destreza de trabalho neste material. Segundo as descrições comportava dois mil batos, aproximadamente noventa mil litros.

Ele estava sobre doze bois de bronze, estes com as faces voltadas para fora e sua posterior para dentro do mar, que eram distribuídos uniformemente com três bois para cada ponto cardeal, ou seja, três para o norte, três para o sul, três para o leste (oriente) e três para o oeste (ocidente).

A base do Mar de Bronze era no número de dez, com o comprimento de quatro côvados de comprimento e quatro de largura, com três côvados de altura, também feitas de bronze. Ela possuía cintas entre as molduras, e entre essas cintas havia molduras de leões, bois, palmas e querubins. Todas elas tinham a mesma medida, mesmo entalhe e a mesma fundição. Segundo a descrição eles foram feitos a mando do Rei Salomão na planície do Rio Jordão, em uma terra argilosa entre as regiões de Socot e Sartã, e era tão grande que o Rei Salomão não pesou o bronze utilizado.

Material utilizado no Mar de Bronze

Para sua construção foi utilizado o bronze, nome com o qual se denomina toda uma série de ligas metálicas que tem como base o cobre e proporções variáveis de outros elementos como estanho, zinco, alumínio, antimônio, fósforo e outros com o objetivo de obter características superiores a do cobre. Sendo utilizado primeiramente na fabricação de armas e utensílios e em estátuas.

O bronze não é um metal puro, e sim uma liga, basicamente de cobre + zinco + estanho + chumbo (podendo ter outros metais) e seu ponto de fusão varia entre 900-925/985-1000ºC. Basicamente, consistia em misturar o mineral de cobre (calcopirita, malaquita ou outro) com o estanho (cassiterita) em um forno alimentado com carbono (carvão) vegetal. O anidrido carbônico reduz os minerais a metais: cobre e estanho que se fundem e se ligam entre 5 a 10% de estanho.

Quando ele era polido, chega-se ao amarelo ouro, sendo o mais usado no campo da escultura. Sua grande popularidade se deve à sua enorme resistência estrutural, à não corrosão atmosférica, à facilidade de fundição e uma capacidade de acabamento que permite excelente polimento ou o uso de diversas cores e tipos de pátinas.

Dimensões

Suas dimensões, como dito anteriormente, eram de com dez côvados de uma borda à outra, com a altura de cinco côvados e com um cordão de trinta côvados cingindo ao seu redor, tinha a grossura de um palmo e sua borda era como a de um copo.

O "Côvado" é uma antiga unidade de medida que representa 44 cm (Côvado Hebreu) ou 44,45 cm (Côvado Romano). Assim, as dimensões do Mar de Bronze eram aproximadamente de 4,50m de diâmetro, e 2,25cm de profundidade.

Para título de comparação, pois o côvado era uma medida muito variável entre os povos, temos as medidas dos côvados segundo as civilizações antigas:

Civilização

Medida do côvado em (cm)

Romana

~ 44,45

Grega

~ 46,31

Hashimi

~ 65,02

Árabe

~ 55,56

Mesopotâmio

~ 53,34

Babilônio

~ 49,61

Pérgamo

~ 52,09

Salamis

~48,4

Persa

~50,01


Naturalmente, o autor do texto bíblico fez referências apenas aproximadas, já que com tais medidas, e sendo perfeitamente redondo, não poderia ter 30 côvados (13,5 metros) de perímetro, já que o ? (Pi) não é 3, mas 3,14.

Capacidade

Conforme descrito ele possuía dois mil batos [no entanto encontra-se também três mil batos (2Cr 4-5)], sendo que cada bato representa aproximadamente quarenta e cinco litros de água, totalizando noventa mil litros de água. No entanto um recipiente com as dimensões descritas nas Escrituras, não conseguiria suporta tal volume de água, mas deveria conter aproximadamente uns quarenta e cinco mil litros, ou seja, a metade do que está descrito.

Localização

A localização do Mar de Bronze seria no pátio de Templo é tema relativamente controvertido, pois as próprias traduções bíblicas apresentam certa divergência quanto à localização do Mar de Bronze no próprio Templo. Sabe-se que o Templo de Salomão estava orientado do Oriente para o Ocidente. À entrada do Templo e as colunas Jaquim e Boaz, portanto, estava no Oriente, enquanto o Santo dos Santos situava-se no Ocidente.

Olhando-se de dentro para fora, em direção à entrada oriental do Templo, estavam localizadas as colunas "J" (direita) e "B" (esquerda). Todas as traduções consultadas afirmam que o Mar de Bronze estava localizado fora do Templo, no Oriente e à direita, sendo assim próximo a coluna "J". Segue abaixo o quadro comparativo contido no Ritual 1º Grau – Aprendiz Maçom – REAA.


Algumas traduções dizem que o Mar de Bronze estava nesta posição contra o meio-dia; outras falam em meridiano; e outras ainda ao sul. As expressões meio-dia e meridiano referem-se ao ponto cardeal Sul. O Mar de Bronze, portando, localizava-se entre o Oriente (Leste) e o Sul, ou seja, a sudeste. Porém, a versão Pastoral da Bíblia, em (1Rs 7- 39) traduz esta posição como sendo sudoeste, o que aparenta ser um equívoco, já que em (2Cr 4 -10) esta mesma versão da bíblia referência sudeste.

Talvez tenha sido esta a tradução utilizada por CASTELLANI quando, transcrevendo a mesma passagem bíblica, afirma que no Templo de Salomão o Mar de Bronze situava-se a sudoeste, de forma equivocada. Todas as representações gráficas, gravuras e plantas do Templo de Salomão consultadas, a mais antiga datada de 1584 posiciona o Mar de Bronze a sudeste, sendo esta localização a mais aceita.

Utilidade

A mesma simbologia inserida na antiga pia do Tabernáculo era aplicada ao Mar de Bronze, pois sua água tinha o poder de lavar os pecados, com o intuito e significado muito forte de purificação, retirando desta forma qualquer "mancha" que poderia macular o Templo. Na prática do Templo servia para retirar qualquer vestígio de sangue ou resíduo que ficasse impregnado nas mãos e pés dos sacerdotes, além da purificação dos sacerdotes, dos fiéis e dos animais e as oferendas que entrariam no Templo.

O Mar de Bronze também servia para abastecer as dez Pias móveis que eram espalhadas pela parte externa do templo, sendo cinco de cada lado do templo.

Pias de Bronze

Além do Mar de Bronze, foram feitas mais dez pias de cobre móveis sobre rodas. Em cada pia cabiam quarenta batos (aproximadamente mil e oitocentos litros), sendo que cada uma tinha quatro côvados. Colocou-se então cinco bases à direita da casa, e cinco à esquerda, porém o mar pôs ao lado direito da casa para o lado do leste, na parte do sul.

As Piscinas Milagrosas na Antiguidade

A utilização de piscinas ou pias na antiguidade para o objetivo de curar ou se purificar-se das impurezas é encontrado em diversas culturas antigas. Bem semelhante ao Mar de Bronze, existia a piscina de Shilon (Siloé), o célebre tanque sagrado de Oanes em Ur, o de Karnak no Egito, a piscina sagrada de Mohenjo-Daro e o lago Titicaca dos Unis pré-incáicos. O fato é que tais construções sagradas não faltavam nunca nos santuários e enterros das culturas sumério-megalíticas e pós-megalíticas dos povos do mar; assim como o costume de construir tumbas e sepulcros em cima dos lençóis freáticos ou nas proximidades de rios e lagos, para que os mortos recebessem o influxo benéfico da "água vital"; e quando não havia água nem subterrânea nem nas proximidades, costumava-se então colocar ao lado do morto muitos recipientes cheios de água para auxiliarem na viajem além da vida.

Nos Ritos Maçônicos

O Mar de Bronze exerce a mesma função de purificação, já que é nele que se opera a purificação pela água nas iniciações. Simbolicamente, ocorre aí à purificação da alma do candidato, após a realização da sua segunda viagem em sua iniciação, sendo a terceira prova a da água, que está sendo preparado para sacrificar o Homem profano e fazer nascer na luz o Homem Maçom.

A localização do Mar de Bronze nos templos maçônicos é tema relativamente controvertido. Aliás, as próprias traduções bíblicas apresentam certa divergência quanto à localização do Mar de Bronze no próprio Templo de Salomão, mas a mais aceita é que ele fica localizado no Sudeste.

É que, direcionando-se o Templo Maçônico (Ocidente para o Oriente) em sentido inverso ao do Templo de Salomão (Oriente para o Ocidente), parece-nos que deve haver a correspondente inversão dos demais pontos cardeais, para que se mantenha a mesma simetria. Tal fato, aliás, justifica o posicionamento das colunas J e B: no Templo de Salomão, J está à esquerda de quem de fora olha, e B está à direita. No Templo Maçônico, J está à direita de quem de fora olha, e B está à esquerda. E isso reforça nossa impressão.

Partindo dessa premissa parece-me que o Mar de Bronze deve estar localizado à sudeste no Templo Maçônico. O Ritual GOB (2009) posiciona o Mar de Bronze no Ocidente (Oeste), mais próximo à Coluna do Sul.

CONCLUSÃO

É notória a importância da água para o ritual de passagem de um profano em busca do caminho da Luz. Observamos que esta viagem é realizada por diversas culturas e há milênios por inúmeros povos, daí ser tão necessário ao Templo Maçônico a presença do Mar de Bronze no seu ritual.

E como descrito a seguir no texto sagrado:

"Assim se acabou toda a obra que fez o rei Salomão para a CASA DO SENHOR; então trouxe Salomão as coisas que seu pai Davi havia consagrado; a prata, o ouro, e os objetos colocando-os entre os tesouros daquele TEMPLO dedicado ao SENHOR. Então veio a palavra do SENHOR a Salomão, dizendo:

- Quanto a esta casa que tu edificaste, se andares nos meus estatutos, e fizeres os meus juízos, e guardares todos os meus mandamentos, andando neles, confirmarei para contigo a minha palavra, a qual falei a Davi, teu pai."

Digno de nota ainda são as grandes divergências sobre o tema no mesmo livro (no caso a Bíblia Sagrada Cristã) devido há grande variedade de tradutores e as línguas que foram traduzidas, desde o hebraico, grego antigo, latim, inglês e alemão.

Daí não ser o foco deste trabalho ter a pretensão de definir qual é a correta ou a melhor e como ele deve ser utilizado no Templo Maçônico e sim utilizá-las para uma compreensão mais aproximada da realidade.


Cassiano Dias de Souza, é Mestre Maçom



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