MAÇONARIA: UMA INSTITUIÇÃO SIMBÓLICA
Ouvi, numa entrevista feita com um maçom adormecido:
PERGUNTA DO ENTREVISTADOR: "você já foi (sic) maçom, já foi Venerável Mestre, já recebeu medalhas e, após mais de quinze anos de maçonaria, saiu da instituição, dizendo-se decepcionado. Por quê?"
RESPOSTA: "cargos, medalhas e comendas na Maçonaria são o mesmo que você ser rico no "banco imobiliário". "É tudo uma ilusão. Não servem para nada". (jogo banco imobiliário – grifo meu). "Na Maçonaria, você tem um poder que não existe".
MEU COMENTÁRIO: que pena que esse irmão, com tanto tempo de maçonaria, tendo passado pela Cadeira de Salomão (ainda que na forma simbólica – como tudo o que ocorre na Maçonaria), não entendeu nada de Maçonaria.
Vou criar uma situação hipotética, para iniciarmos nossa análise do tema. Onde moro, em Águas Claras – Brasília – DF existem duas pessoas, dois cidadãos: um é soldado do Corpo de Bombeiros, sem curso superior e o outro é médico, com especialização em pediatria, pela Sorbonne Université – Paris.
Se você tivesse que escolher qual dos dois é mais importante para a sociedade, qual seria sua escolha? Respondeu mentalmente?
Agora, criemos duas situações hipotéticas.
1. Seu filho de dois anos de idade está com uma doença rara. (Mais ou menos como ocorreu, de fato, com minha filha mais velha, quando ela tinha 2 anos de idade. Ela teve Síndrome de Guillain Barré. Andei por diversos médicos em Belo Horizonte, onde nós morávamos, à época – mais de dez, para ser honesto. Até que encontramos um médico especializado, professor da UFMG, que descobriu a doença em poucos minutos de consulta. Minha filha está muito bem hoje, sem sequelas e com mais de 30 anos de idade).
Nesse caso, quem seria mais importante para você, o médico ou o soldado bombeiro?
2. Agora, imaginemos outra hipótese (que nunca ocorreu comigo). O filho de dois anos de idade de uma pessoa está dentro do quarto, no apartamento onde mora. Por uma fatalidade, há uma explosão no fogão a gás, dentro do apartamento e a única pessoa que está com a criança abre a porta e corre para pedir socorro. Nesse ínterim, o fogo se alastra e impede o acesso ao quarto da criança. Os bombeiros chegam e um soldado bombeiro sobe pela escada magirus, acessando o quarto da criança, pela janela, pelo lado de fora, resgatando a criança com vida. Nesse segundo caso, quem seria mais importante para você, o médico ou o soldado bombeiro?
O que essas duas histórias têm a ver com o título do meu texto? Primeiro, pretendo mostrar que todos são importantes na sociedade. Cada um tem seu papel e seu lugar e, consequentemente, sua importância ímpar. Como dizia um grande amigo: "cada qual no seu cada qual".
A vida é repleta de simbolismo. Não só a maçonaria. O Direito, por exemplo, é cheio de ficções. Costumo brincar, em minhas aulas, que o Direito é muito parecido com o mundo de MATRIX (o filme).
Vejamos algumas ficções do Direito: a pessoa jurídica, o espólio, a massa falida e tantas outras.
O mundo não teria como ser movido, se não existissem as ficções e os símbolos. Muitas convenções sociais são representadas por símbolos. Vamos ver no trânsito: sinal vermelho – deve parar; sinal verde – pode seguir; sinal amarelo – atenção. O Código Nacional de Trânsito é repleto de símbolos.
Nos hospitais, temos a foto de uma enfermeira com o dedo indicador sobre os lábios, simbolizando que se deve fazer silêncio.
Nas igrejas temos diversos símbolos. O peixe simboliza o renascimento. O galo significa a vigilância. A taça significa a caridade. A âncora significa a esperança. Só como exemplos.
No meio militar, temos nossos símbolos. A folha de acanto representa a atividade da arma de Intendência, que faz o suprimento. Os dois fuzis cruzados, com uma granada no centro, representam a arma de Infantaria etc.
E o poder? O que é o poder, senão a força do exemplo.
Aquele que convence pelo exemplo, tem o poder.
Portanto, o simbolismo rege a humanidade.
Na Maçonaria, não poderia ser diferente. Aliás, o simbolismo na Maçonaria é muitíssimo explorado. Com o tempo de maçonaria e com os estudos e muito trabalho e dedicação à Ordem, a gente começa a perceber o poder de cada obreiro. Lembram-se do "cada qual no seu cada qual"? Pois é. Uns irmãos têm muita facilidade para escrever, outros têm muita facilidade para "carregar pedras".
Tudo é questão de coletividade. Cada um tem o seu papel e ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Todos têm o seu valor.
Quando um maçom ainda não entendeu o significado do simbolismo maçônico, foi porque ele não entendeu o significado da própria maçonaria.
Da mesma forma que as qualificações e diplomas profanos não adentram (ou não deveriam adentrar) as portas dos Templos (ou Salas) Maçônicos, as qualificações e diplomas maçônicos não podem sair dos Templos (ou Salas) Maçônicos.
Dessa forma, o Venerável Mestre é Venerável Mestre somente após a abertura dos trabalhos ritualísticos. Quando a Loja está em um almoço (ou churrasco) festivo, não existe a figura do Venerável Mestre. O Aprendiz Maçom, o Companheiro Maçom, o Mestre Maçom e o Past Master só existem a partir do momento que se abrem os trabalhos e durante os trabalhos. Ao fechar a Loja, desaparecem os graus, cargos e comendas.
Então, quando estamos num almoço festivo, todos os membros da Loja voltam a ser irmãos maçons. Ali, no almoço não ritualístico, não existem aprendizes, companheiros e mestres. Ali estão os maçons da Loja.
Ora, se você passa alguns anos na Ordem, alcança todos os graus simbólicos e, quiçá, graus superiores em alguns Ritos, como Escocês Antigo e Aceito, York e Brasileiro, você estudou parte do filosofismo maçônico. Ou seja, você adquiriu diversos poderes (ou deveria ter adquirido).
Quando o entrevistado, lá do início deste texto, fala que ter cargos e diplomas na maçonaria é como ser rico no "banco imobiliário", ele demonstrou que não entendeu nada de Maçonaria e de Simbolismo maçônico.
Quando meus filhos se identificam como filhos de um maçom, é porque eles acreditam que isso significa que eles têm um pai que tenta (o tempo todo) ser justo e correto; um pai que anda pelo esquadro e está vigilante em seus direitos, limitado pelo compasso. Vejam o poder que tenho como maçom, junto aos meus.
Quando o Venerável Mestre demonstra ser um maçom justo, amável e sábio nas decisões, ele deixa uma marca poderosa nos demais membros da Loja; particularmente junto aos aprendizes e companheiros. Isso é um poder incomensurável.
Ser maçom dá-nos muitos poderes, ao contrário do que pensam os desavisados ou os sem discernimentos.
Vamos lá. Qual o poder tem um General de Exército? Fora da Força, nenhum. Ele é um símbolo dentro do Exército e deve ser respeitado como tal pelos seus comandados. Mas terá tanto poder dentro da Força, quanto sabedoria e capacidade de convencimento pelo exemplo.
Que poder tem um Juiz de Direito? ZERO, senão dentro de um processo judicial do qual seja o Juiz da causa. Fora do processo ou em qualquer outro processo no qual não seja o Juiz da causa, ele não tem qualquer poder.
Os poderes e as riquezas são símbolos. Existem pessoas que não tem fortunas materiais e têm poder de agregar pessoas, convencem pessoas. Mas, há outras que têm fortunas materiais e não têm qualquer influência sobre outras pessoas, não agregam, não unem, não convencem, não levam um grupo a produzir.
A Maçonaria é uma instituição essencialmente simbólica. E é essencialmente forte. Quanto mais o maçom entende o significado dos símbolos e aplica-os na sua vida prática, no seu dia a dia, corrigindo seus defeitos de caráter, desbastando a pedra bruta que é ele mesmo, mais poder ele passa a ter. Mais carrega multidões. Mais convence, lidera, comanda, constrói.
Esse poder não pode ser percebido pelo ignorante, pelo ignóbil, pelo fraco, pelo desinteressado na sua própria reconstrução moral, ética e intelectual.
Poucos dias atrás, ouvi dos lábios de um Grão Mestre: "eu encontrei o que procurava na Maçonaria". Pensei comigo: não é por menos que ele é Grão Mestre. Ele encontrou o poder. O poder do exemplo. O poder da moral. O poder de arrastar e de liderar pessoas para a construção de uma sociedade mais sóbria, mais justa e perfeita.
Sonho com o dia em que os maçons entenderão o poder que adquirem com a maçonaria e os seus símbolos.
As Lojas Maçônicas não são tabuleiros de um "banco imobiliário". Quem ainda pensa assim, não entendeu nada de Maçonaria.
Guilherme Castro Cabral é Mestre Maçom