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Pré-história da Maçonaria

A Pré-história da Maçonaria, a partir do livro: "El Origen de Los Grados Masónicos" de Alberto Moreno Moreno

Do que trata o livro "El origen de los Grados Masónicos"



A Pré-história da Maçonaria, a partir do livro: "El Origen de Los Grados Masónicos" de Alberto Moreno Moreno


A presente peça toma por base o excelente livro "El origen de los Grados Masónicos", de 2017, do Irmão espanhol Alberto Moreno Moreno, notadamente em sua 1ª parte onde trata do surgimento dos graus simbólicos e dos graus primitivos. A segunda parte do livro, aborda os demais graus do REAA que não mencionarei nesta apresentação.

O autor inicia com a análise de vários manuscritos (Ms) a partir do Ms Regius do anos de 1390. Em razão das datas que são atribuídas aos manuscritos é possível estabelecer três grandes períodos nos quais se apresentam características semelhantes. Assim, em função do agrupamento decorrente dessas semelhanças e também da cronologia, o escritor atribuiu a denominação de "Rito", porém, nos alerta para que não entendamos como os Ritos praticados atualmente.

O primeiro período está localizado aproximadamente entre 1390 com o MS Regius até 1517 quando se dá a reforma protestante. Ele chama de "Rito dos Antigos Deveres" os textos manuscritos dos operativos desta época (também chamados Old Charges), que serviam para receber anualmente os aprendizes, no dia do Santo Padroeiro da Corporação ou Guilda. Lembremos que esse costume era comum para as corporações em geral, não apenas para os trabalhadores da Pedra. Esses textos tinham função profissional e moral e, eram lidos antes do candidato prestar o devido juramento. Para os maçons, o Ms Regius definia o dia 08/10, dia dos 4 Coroados (Quatro Mártires Coroados), como o dia que o juramento seria prestado e continha ainda outras obrigações e lendas.

Neste período, a religião católica predominava no ocidente e consequentemente influenciava significativamente os costumes e, dessa forma, os textos dos manuscritos mostram notadamente essa característica. Há muita semelhança entre os "Antigos Deveres" e a Regra Beneditina (da Ordem de São Bento) a qual serviu de inspiração para as regras de diversas agremiações. Portanto, inicialmente era basicamente praticado por maçons operativos católicos e posteriormente também por anglicanos ou episcopalistas (citando outro renomado autor, Patrick Negrier).

O segundo período cronológico a destacar se dá a partir da Reforma Protestante de 1517 e vai até cerca da década de 1680. Nesta etapa é quando surge o que o autor chama de Rito da "Palavra do Maçom". Com o surgimento das novas denominações protestantes, a influência anteriormente apenas católica passou a dividir ascendência com estas. Alguns fatos marcantes ocorreram, como a criação da Igreja Anglicana (1534 Ato de supremacia), quando Henrique VIII da Inglaterra buscou abolir os grêmios, pois entendia que eram parte da estrutura da Igreja Católica tendo determinado perseguições e destruição de documentos. Em 1598, na Escócia, os Estatutos Schaw determinavam o registro de assinaturas e marcas dos maçons, dessa forma criando documentos ao contrário da Inglaterra que os destruiu. Outro fato significativo foi quando James VI Escócia assume também o trono da Inglaterra (1603) e tenta, sem sucesso, impor o anglicanismo (episcopalismo) na Escócia onde predominava a corrente calvinista (presbiterianismo).

O chamado Rito da "Palavra do Maçom" se caracteriza pelo surgimento dos sinais, toques e palavras, criados por maçons presbiterianos da loja de Kilwinning, os quais viam o juramento sobre os "Antigos Deveres" incompatível com sua fé Calvinista. As nuances desse período são igualmente refletidas nos manuscritos e tem desenvolvimento marcante a partir do século XVII, associado a própria história Escocesa.

O terceiro período, a partir da década de 1680, é caracterizado pelo sobrevir da ritualística e dos catecismos e vai até cerca 1730 com a publicação de Maçonaria Dissecada, de Pritchard. Observa-se que a Palavra do Maçom deixa de ser mera transmissão de sinais, toques e palavras e assume um conteúdo mais ritualístico, com influência rosacruciana (movimento filosófico do século XVII). Os catecismos de 1696 a 1730 apresentam duas características: alguns com as nuances mais presbiterianas e outros mais episcopais, se bem que há também alguns com ambas, a depender da região e data de cada um deles.

Com a Maçonaria Dissecada, de Pritchard, se teve conhecimento do Ritual Londrino dos Modernos, o qual apresentava novidades. Quando comparado a publicação "Mason´s examination", de 1723, destaca-se a descalvinização do ritual e sua ontologização, com o GADU substituindo o Deus Judaico-Cristão e ainda o aparecimento da lenda de Hiram Abiff; a lenda teria sido um projeto Londrinense (modernos). Por sua vez, os Antigos seriam os herdeiros das tradições do Arco Real (primitivo) e tinham numerosos graus colaterais, enquanto os modernos trabalhavam apenas os 3 graus simbólicos (craft), sendo que estes aceitaram, oficialmente, o Arco Real apenas em 1766. De forma oposta os Antigos não aceitaram facilmente a lenda de Hiram, a qual foi paulatinamente se incorporando com o passar do tempo.

A respeito dos graus primitivos, não é possível estabelecer com precisão as suas datas em razão da ausência documental; mas, a despeito disso, há alguns manuscritos e registros que permitem inferir sua antiguidade e, por essa motivo, são considerados de épocas imemoriais. Assim sendo, esses graus já eram praticados em diversos locais e foram o embrião da maioria dos graus hoje existentes.

Os Graus de Marca e os Graus Harodin fazem parte de um modelo de maçonaria surgido a margem dos Antigos Deveres, da Palavra do Maçom e do Real Arco. Com bagagem dos operativos, vem principalmente da Escócia, norte da Inglaterra e um pouco também da Irlanda. De importância para operativos, tinha incontáveis rituais e são também conhecidos como graus Harodin. Desde 1598 os estatutos Schaw, na Escócia, estipulavam registro de assinatura e marca. Teve significativa ascensão coincidindo com a implantação da lenda de Hiram. Sob essa denominação, de Marca, teria recebido influência dos graus Harodin (dos operativos e guildas), do grau da Cruz Vermelha Irlandesa e dos graus do origem primitiva escocesa. Vale salientar que quando da tradução para o Francês, a palavra Harodin foi erroneamente grafada como Heredom. Até certo ponto, há alguma relação com a Ordem Real da Escócia, e consta que os Harodin de Durhan (condado palatino e episcopal) foram uma forma antiga de maçonaria, sob influência dos monges Culdeos, de tradição monástica Celta. A tradição desses religiosos, que eram os antigos anciãos (Elders) do grêmio, vem a corroborar as palavras do conhecido discurso de Ramsay e se afirma ainda que, existiu um manuscrito Harodin.

Outro sistema, o Arco Real, originalmente ramo autônomo de Maçonaria, representava a totalidade da história sagrada desde Adão até Zorobabel; incluindo a lenda de Enoc que se popularizou na Grã-Bretanha por volta de 1600. Não existe documentação sobre sua origem, mas há autores que sustentam que chegou a Inglaterra pelo contexto capitular dos graus Harodin. De publicações, sabe-se que na Irlanda era trabalhado pelo menos desde 1725. A criação, em 1717, da Grande Loja de Londres e Westminster (modernos) que trabalhava apenas com os 3 graus simbólicos, além das questões políticas e religiosas, não foi unanimidade sequer em Londres e muitas lojas londrinas continuaram a trabalhar no sistema dos antigos (com Arco Real); assim os modernos não conheciam o Arco Real e os antigos não conheciam a lenda de Hiram. Somente na união de 1813 foi criado um capítulo de promulgação para reformular o ritual, o qual deveria atender as demandas, tanto dos modernos quanto dos antigos e; o resultado foi um ritual encurtado e simplificado, que culminou com perda de conteúdo simbólico. Além de Moreno, outros autores veem o Arco Real na classe dos graus escocistas.

Destaque-se ainda o sistema da elitista Real Ordem da Escócia, sendo seu ritual, o mais antigo conhecido, um caldo primordial que mostra, ainda que de maneira insipiente, muitas lendas que foram posteriormente desenvolvidas tanto no Arco Real como no R.E.A.A.. Há menção de uma assembleia provincial realizada em Londres, em 1696 e sua antiguidade é atestada tanto pela sua simplicidade, quanto pelo forte caráter calvinista e cristão. No século XVII, na Escócia, já trabalhavam com mitos como Enoc e Elias e ainda com a construção do primeiro Templo. Na assembleia de 1730, quando já possuía aparato administrativo, sua constituição já a considerava de tempo imemorial. Sua gestão é, de fato, exercida pelo Delegado do Grão-Mestre; uma vez que o posto de Grão-Mestre é hereditário e de competência do próprio Rei da Escócia. Possui apenas dois Graus: Heredom de Kilwinning e Cavaleiro Rosa Cruz, os quais tem seu rituais recitados em verso. As mudanças que vinham ocorrendo levaram a extinção dos Harodin, e a Real Ordem da Escócia também entrou em declínio, mas a maçonaria simbólica absorveu suas instruções simbólicas; o aspecto militar do segundo grau foi absorvido pelo grau 15 do REAA (Cavaleiro do Oriente e da Espada) e o aspecto civil pelo Real Arco. O Gabinete da Sabedoria se converteu no Grau 18 do REAA – Rosa Cruz de Heredon (Harodin) e a Cavalaria foi assumida pelo Kadosh Templário – grau 30 do REAA.

Na sequência, não podemos deixar de mencionar o que hoje conhecemos como Escocismo. Em 1688, na Inglaterra, ocorreu a Revolução Gloriosa onde James (Jacob) II (católico) foi destronado por sua filha Maria II (protestante). As revoltas jacobitas para retomada do poder contaram com apoio das nações continentais, mesmo assim não lograram êxito e, as sucessivas derrotas causaram a diáspora jacobita. A França, principal destino, recebeu a base social escocesa além de aliados irlandeses e ingleses e essa foi a semente através da qual germinaria o Escocismo. Os usos e costumes assim levados para a França, levaram consigo o germe do que posteriormente seria conhecido como "Rito de Perfeição", o qual daria origem a outros Ritos hoje praticados. Da então jovem maçonaria Francesa, o autor cita Ragón, o qual enumera que na década de 1740 havia: 75 nomenclaturas, 52 "ritos", 34 ordens supostamente maçônicas, 26 ordens andróginas, 6 academias e mais de 1400 graus. Diante desse imenso e caótico quadro, muitas tentativas de organização surgiram, mas vale destacar que, em 1743, foi eleito "Grão Mestre de todas as Lojas Regulares da França" o conde de Clermont ,o qual assumiu a trabalhosa missão de dotar ao sistema de graus uma estrutura estável. Na esteira foi criado o "Conselho de Clermont" que iniciou o processo de estruturação do que hoje conhecemos como "Altos Graus".

Concluindo, podemos observar que de uma maneira geral, a descristianização da ordem fez desaparecer diversos graus e cerimônias por serem considerados idolatria e, outros, como por exemplo, a cerimônia dos véus, tiveram seus conteúdos absorvidos pelos graus dos Novos Ritos que iniciaram a surgir. Assim, o que hoje chamamos de Altos Graus se originaram da maçonaria praticada pelos escoceses, saídos das ilhas Britânicas devido a diáspora Jacobita; e mostra ainda que a pré-história da algum embasamento ao discurso de Ramsay, que cativou a nobreza em especial a francesa, a qual tanto contribuiu na difusão da ordem.

Fábio R.F. Pacheco

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