Um caso a ser estudado de relações institucionais ente Maçonaria e Igreja Católica
Homero Zanotta
O tema das relações entre Maçonaria e a Igreja Católica é complexo e não parece estar pacificado. Há todo um legado histórico de declarações e restrições, pontos de vista mesclados de filosofia e preconceitos e até desconhecimento real do que vem a ser a Maçonaria.
Vários papas publicaram objeções contra a maçonaria (1).
O primeiro, em 1738, foi o Papa Clemente XII em In eminenti. Clemente XII proibiu a participação de católicos na Maçonaria por professar ideias filosóficas e morais contrárias à fé católica.
O pontificado do Papa Pio IX (Papa entre 1846-1878) foi marcado pelo chamado ultramontanismo e pela luta contra o regalismo que justifica a interferência do poder civil na vida interna e na administração da Igreja. Em 1864, o mesmo papa havia condenado as sociedades secretas, entre elas a maçonaria.
Leão XIII (Papa entre 1878 e 1903) foi ainda mais severo, que, na encíclica "Humanum genus", em 1884, chamou a seita maçônica de "ímpia e tenebrosa".
O cardeal Ratzinger, posteriormente, papa Bento XVI, assinou declaração em 1981, onde diz textualmente:
Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão. (2)
Mais recentemente, Dom Antonio Staglianò, presidente da Pontifícia Academia de Teologia em entrevista à mídia do Vaticano, reitera as razões da incompatibilidade entre a fé católica e o pensamento maçônico:
Nossa ideia de Deus não é ditada pela razão humana, mas pela Revelação. Também divergimos quanto ao significado profundo da fraternidade e da caridade". Os fiéis que se unem às lojas maçônicas estão em um estado de pecado grave: eles não podem receber a comunhão. (3)
Em resposta do Dicastério (*) para a Doutrina da Fé a um bispo das Filipinas, datada de 13 de novembro de 2023 e aprovada pelo Papa Francisco, é reiterado que a associação ativa continua proibida: "Os fiéis", conclui, "que aderem às lojas maçônicas estão em um estado de pecado grave e não podem, absolutamente, ter acesso à Comunhão". https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-11/maconaria-para-catolicos-continua-proibida.html
(*) Observação: Dicastério, é o nome dado para os departamentos do governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana. Entre os dicastérios estão: a Secretaria de Estado, as Congregações, os Tribunais Eclesiásticos, Conselhos, Ofícios, Comissões e Comitês.
Importante considerar que estamos diante de novos tempos, novos enfoques e realidades distintas. Necessário é remover a desconfiança, confirmar a mútua convivência e promover relações institucionais consistentes e duradouras.
A intransigência religiosa não deve ter lugar nas relações com a maçonaria. Há fortes pontos de contato entre as Ordens. Mesmo não sendo religião, Maçonaria tem por fim último, a dignidade e a felicidade do ser humano.
Egrégora publica nesta edição, interessante matéria intitulada "O distanciamento da Igreja Católica em relação à maçonaria", que bem complementa este ponto de vista.
Homero Zanotta é Mestre Maçom
Referências
(1) Luigi Sandri in https://www.ihu.unisinos.br/categorias/634385-a-condenacao-da-maconaria-artigo-de-luigi-sandri
(2) https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19831126_declaration-masonic_po.html
(3) https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-02/igreja-e-maconaria-stagliano-sao-profundamente-inconciliaveis.html
(4) https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/o-distanciamento-da-igreja-catolica-em-relacao-a-maconaria