O GALO E SEU SIMBOLISMO
INTRODUÇÃO
As lições aprendidas na iniciação maçônica se mostram únicas, tal qual a percepção do profano que busca a "luz" (sabedoria). Nos momentos decorrentes de nossa "libertação" rumo ao conhecimento gradativo, sólido e pleno, nos deparamos com a figura do galo e seu simbolismo.
É naquele conhecido ambiente lúgubre, silencioso, de aspecto hermético, até claustrofóbico para alguns, que nos vemos diante de vários objetos e dizeres expostos. Ficamos suscetíveis a efeitos psicológicos (julgo serem positivos), cujos significados que, empiricamente nos levam a uma compreensão particular, ante ao que vê e ao que se sente, efeito natural do nosso modo de pensar.
Nesse singular ambiente, nos deparamos com a figura do galo, que no imaginário Cristão possui forte representatividade simbólica, religiosa e folclórica. Na literatura maçônica poucas brochuras detalham a representatividade de referida figura. Provavelmente, por uma questão isonômica em dividir as atenções a outros itens simbólicos, o Galo pode passar desapercebido, mas ele está presente!
O Galo, aqui descrito assim mesmo, com letra maiúscula, possui ímpar sentido simbólico! Em diversas culturas pelo mundo, ao longo dos séculos, a figura do galo é positivamente referenciada e ligada a grandes virtudes, que remontam ao comportamento dignificante e auspicioso, quanto aos acontecimentos futuros, como no caso das interpretações simbólicas em regiões asiáticas. Na Europa, há regiões que enaltecem o simbolismo histórico e folclórico. No "novo mundo" (nas Américas), reproduzimos esses conceitos simbólicos de forma sincrética.
O texto a seguir "transita" em algumas regiões de grande influência na cultura global em especial a brasileira, com a finalidade de contribuir um pouco com o aprendizado para o entendimento simbólico da figura do galo, para diversos povos, salientando que não se pretende, aqui, esgotar o assunto específico, havendo ainda vasto campo de pesquisa sobre o simbolismo desse belo e inspirador animal.
Simbologia para reflexão
Quando iniciamos na Ordem, somos colocados diante de vasta simbologia e devemos responder às várias provas a que somos submetidos. Claro, nos é dada oportunidade ímpar de reflexão sobre nós mesmos e sobre nossas convicções em prosseguir na jornada rumo ao conhecimento.
"Esquecido" nessa "masmorra" simbólica, isolado do mundo, e desprovidos de todo "metal" ou qualquer outro bem de valor, nos resta deixar o coração serenar, a pressão arterial se harmonizar à respiração, até atingir nossa vital homeostase, tornando a mente em estado de "semi vacuidade", como descreve Camino (1975, p. 112). |
Assim, conseguimos nos equilibrar para interpretar com particularidade cada detalhe, cada objeto, cada representação simbólica ali presente. Segundo D" Elia Junior (2019, p. 227): "O simbolismo exige que cada qual formule Interpretações de acordo com o seu próprio modo de Ver e de Sentir".
"A percepção interior resulta da diminuição das atividades de nosso sistema nervoso gradativamente, até sua paralisia completa, até encontrar um estado maravilhoso de silêncio. [...] A Atividade mental é reduzida ao descanso total, ao "ponto de agulha". Esse ponto se situa na fonte do pensamento, que é cósmica e pura" (CAMINO, 2018, p. 91) |
Nos parece estarmos buscando o "centro" de nós mesmos, refletindo minimamente sobre nossas paixões e vícios que, destarte, nos fizeram chegar ali, selecionados ou convidados a conhecer a "luz". Temos a impressão de estarmos "encarcerados" ou até mesmo "sepultados", desfazendo-nos de nossos "despojos", que de forma simbólica nos prepara para o renascimento para uma "nova vida", que será plena, por meio do nosso aprimoramento pessoal, no uso de nosso livre arbítrio no pensar e apreender lições.
Nesse momento tão especial, verificamos à nossa frente a ampulheta, o pão, alguns punhados de enxofre, sal, grãos de trigo e até a figura de um crânio humano se destaca. As iniciais V.I.T.R.I.O.L nos dá uma "diretriz". Dentre outros caracteres de profunda representatividade simbólica, surge uma especial imagem: o Galo!
A figura galiforme, é admirada tanto pela beleza e imponência, quanto pela imagem mística. Espécime que permeia nosso imaginário desde a infância, com base em passagens bíblicas, filmes, e até pelo contato visual e tátil, que simboliza diversos valores, em diversas culturas ao longo de séculos. É dessa figura que se busca entender sua representatividade moral e mística.
O galo e sua representatividade simbólica pelo mundo
O galo, desde a ancestralidade, tem sua imagem ligada ao tempo, à vigilância e à esperança, dentre diversos conceitos mundo afora, não sendo incomum a sua imagem estar comumente associada à cata ventos, com sua figura combinada à "Rosa dos Ventos", indicando a direção da corrente de ar incidente ao objeto. Conforme diversas fontes consultadas, não há consenso sobre a origem do simbolismo do galo, como conhecemos, e aqui iremos retratar.
Desde os tempos egípcios e cultuado nos tempos de Alexandria (Séc I ao IV), em amuletos, anéis e gemas, o deus Abraxas, com seu corpo particionado em cabeça de galo, tronco e braços humanoides e pernas de serpente (de escudo e chicote em mãos) seria um deus ambíguo, que incorporava o bem/mal, luz/trevas, homem/mulher, não sendo onibenevolente (totalmente bom), diferentemente de Jesus. Seria verdadeiramente "terrível" (NETO, 2017 e ARQUIVO, 2022).
Se no Oriente o galo possui até poderes místicos, no Ocidente há regiões onde o galo tem enorme representatividade folclórica, como em Portugal, com seu "galo de Barcelos", e na França, com o galo representando a bravura e coragem do povo da antiga Gália (OLIVERES, 2022).
Se no Oriente o galo possui até poderes místicos, no Ocidente há regiões onde o galo tem enorme representatividade folclórica, como em Portugal, com seu "galo de Barcelos", e na França, com o galo representando a bravura e coragem do povo da antiga Gália (OLIVERES, 2022).
O Galo htps://www.cleanpng.com/png-weather-vane-rooster-bar-harbor-weathervanes-cast- | Figura da antiga Gália https://www.oarquivo.com.br/extraordinario/simbolos-e-objetos/1385-abraxas.html |
A figura do galo no Ocidente
No Ocidente, a França se destaca como região em que a figura do galo, em momentos distintos de desprezo (por Napoleão III) e valorização (na Terceira República de 1889), passou a ser representada em diversos estabelecimentos civis, governamentais, e em objetos de uso. Em moedas, selos, camisa da seleção de futebol, e até a mascote Footix (por escolha popular) da Copa FIFA-1998, a figura do galo simboliza o brio e o caráter junto àquele povo, desde a idade Média (OLIVERES 2022).
Uma das "pistas" para a forte ligação do povo francês com o galo, remonta aos períodos de grandes batalhas na região da antiga Gália, em detrimento da invasão do exército romano àquela região, onde viviam tribos celtas, período em que o pró Cônsul Júlio César sobrepujou a região entre os anos 58 e 51 a. C. Comum também entre os romanos, a palavra "galo" deriva da forma como se denominavam as tribos celtas (gallus), popularizando o termo "povo galo" também entre os romanos (OLIVERES, 2022).
Tempos depois, já no Séc XII, escritores ingleses e germânicos, em seus textos, ainda comparavam o povo francês ao "orgulhoso animal de curral", mas de forma jocosa, em contraponto à águia germânica, orgulho dos germânicos. Mesmo assim, o símbolo do galo "forte e furioso" sobreviveu. Essa resistência é retratada humoristicamente nos Quadrinhos, populares até o final da década de 1990, que conta a história de guerreiros gauleses, de um minúsculo vilarejo, nunca dominados pelos romanos, cuja versão em espanhol se chama "Asterix: El galo".
O Galo cunhado em moeda https://journals.openedition.org/cel/16250 | Asterix: El Galo https://www.asterix.com/es/coleccion/albumes/asterix-el-galo/ |
Se na Idade Média, a figura do galo já se apresentava em campanários (torres de igrejas) da região, como símbolo de vigilância e proteção, a partir da Revolução Francesa a figura de orgulho e valentia do galo teria sido recuperada, sendo, hoje, bastante fortalecida na cultura popular, presente em monumentos, pontes e edifícios oficiais. Sendo a cultura francesa de grande influência na Europa, nos Séc XVIII e XIX (Terceira República), deduz-se o porquê da disseminação dessa figura em outros países, até no Oriente, carecendo de mais pesquisas para comprovação.
De forma menos simbólica, mas folclórica, Em Portugal o "galo de Barcelos", ao norte do país, se apresenta por uma lenda ocorrida naquela região, onde um homem fora inocentado e salvo da forca, e graças ao "canto" de um galo, que jazia morto e assado, antes de uma refeição de um juiz que o sentenciou, sendo o "fato lendário" descrito em várias fontes, até hoje, da seguinte forma geral:
"Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado que, nesse momento, se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamando: "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem". Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou." (BARCELOS, 2022). | https://www.livingtours.com/pt/blog/galo-barcelos-lenda.html |
A figura do Galo no Oriente
O Galo é o 10º entre os 12 animais zodíacos chineses, cujo último ano deste animal se fez iniciar em 28 de janeiro de 2017, tendo sido o mês de setembro daquele ano o período simbólico maior deste signo, cujo ano só se encerraria em 15 de fevereiro de 2018. O galo chinês, como símbolo zodiacal, representa a ordem e a perfeição, ligando os nascidos nesse período a essas características. Mas como tudo em excesso pode gerar desequilíbrio, de acordo com as recomendações dos astrólogos chineses, os nativos do símbolo do galo precisam desenvolver o equilíbrio, para não se quedarem pela agressividade, insatisfação e melancolia (EDICASE, 2022).
Na cultura popular chinesa, o Galo também demonstra um altivo ser, detentor de cinco virtudes: 1- a virtude civil, pela crista; 2- a militar, pelo esporão; 3- a coragem, pelo comportamento em combate, 4- a bondade, por compartilhar de comida com as galinhas, e 5- a confiança por anunciar a aurora, diariamente. Rocha (2022) descreve que "na tradição chinesa o galo está associado ao conceito de Yang, ou seja, ao calor, luz e vida no universo – daí o Yang ser também representado por um Galo" .
Em mandarim os kanjis ?/? (galo/galinha) são homófonos dos kanjis ?/? (realização), que significam termos positivos como sucesso, mérito, conquista e feito heroico. O galo, na crença popular chinesa, também se mostra um espantador de demônios, motivo pelo qual figura nas portas de residências.
No Japão, a figura do galo replica o significado de coragem, além de proteção contra maus espíritos. É uma figura divina no xintoísmo, desde as histórias mitológicas do Séc VIII, de uma clássica obra japonesa intitulada de kojiki, sobre o sol que brilha no reino de Yamato, mas que foi "apagado" e restaurado graças ao canto de um galo, que estimulou a deusa Amaterasu (deusa do sol) a abandonar a gruta, onde tinha se recolhido, deixando o Japão em trevas (MARTINS, 2022).
Todos os dias a deusa Amaterasu saía para iluminar o planeta, mas por tristeza ela resolveu se recolher em sua gruta, não iluminando mais a Terra, tudo em decorrência do mau comportamento do seu irmão Susanoo (deus das tempestades), que teria destruído plantações de arroz, dentre outras "más brincadeiras", irritando a irmã. A História em que o galo, que com seu canto fez a deusa Amaterasu sair da gruta, para que o sol voltasse a brilhar, é tão significativa que o próprio imperador japonês se diz descendente de Amaterasu (SETO, 2022).
Foi com base na lenda do galo, de "salvar" o Japão das trevas, que este animal passou a integrar a astrologia japonesa (Zenshi-kyo), com similaridades à chinesa, também na 10ª posição zodiacal, porém, o zodíaco japonês segue o ano novo solar (Oshogatsu), a partir de 1º de janeiro, enquanto o chinês seria o lunar, 21 de janeiro. Tal qual os chineses, a pessoa nascida sob influência do signo do galo é metódica e perfeccionista. O galo, como símbolo da chegada do ano novo e do renascimento, também representa o sol, único símbolo presente na bandeira nacional do país (KAWANAMI, 2022).
De acordo com Rocha (2022), há um festival no Japão, chamado Tori-No-Ichi, dedicado ao "deus" Otori Sama, o "deus galo" (tori ?). Miura (2012) relata que no mês de novembro, como preparativo para a chegada do ano novo, diversas cidades (até a capital Tóquio) realizam o festival por três dias, a cada 12 dias, naquele mês, totalizando três dias intermitentes de festejos e feiras comerciais, tendo sido o último ano do galo em 2017, similar à China.
Poderíamos "percorrer" o planeta entre diversos países onde a figura do galo se faz representar. Destacamos as regiões anteriormente citadas, por questões de maior influência em nossa cultura popular, religiosa e sincrética, sem contar que em países de África e Índia, por exemplo, a figura do galo se mostra mais mística que símbolo de virtudes.
Já o Brasil sofreu inúmeras influências ao longo de sua história. Somos um povo miscigenado e, por conta disso, muito aberto a culturas estrangeiras. Com simbolismos não seria diferente. O sincretismo e a afeição pelo que vem de fora, faz parte de nosso comportamento histórico religioso, filosófico e cultural.
Galo no zodíaco Chinês horoscopo-chines-galo | Galo na astrologia japonesa https://www.nippo.com.br/lendasdojapao/n284.php |
A figura do Galo no Brasil
Se os brasileiros fossem consultados sobre o que a figura do galo lhes lembraria, provavelmente falariam menos de suas virtudes morais, e mais de suas características intrínsecas de valentia e beleza, bem como de um mero anunciador de um novo dia. Religiosamente, citariam o animal que sinalizou a negação de Pedro à Cristo. Talvez outras lembranças sejam da "Missa do galo", do "Galo da Madrugada" de Recife, e dos quase 30 times de futebol que possuem a imagem do galo em seus escudos - o Atlético-MG o mais famoso deles (GOAL, 2022). Para os mais antigos, talvez fizessem menções às rinhas de galo, hoje impopulares na maioria de nosso país, consequência de nossa mudança de percepção quanto à defesa e trato da integridade dos animais. Uma evolução que merece ser enaltecida.
Tendo sido o Brasil colonizado por portugueses, ainda guardamos muito da influência daquele povo. Além do idioma, dança, religião, comidas típicas e folclore, em muito os brasileiros, sem se darem conta, carregam diversos costumes portugueses. Mas a exemplo dos patrícios, não somos tão rígidos em tradições, principalmente quanto à simbolismos. A figura do galo na cultura portuguesa foi, assim, retratada pelo autor Rocha Peixoto (1900), um profundo estudioso da região de Barcelos, região origem do "galo de Barcelos":
O Galo [...] excede em número e em variedade todas as espécies de fauna. É o melhor tratado em nobreza de porte, em insistência de detalhes, em apuro final de modelado. E no mesmo capítulo nota: Pouco comuns são os assuntos religiosos, numa população que em festividades de igreja encontra os pretextos das suas efêmeras alegrias coletivas (MIMOSO, 2016). |
Mimoso (2016) trata da origem turística do "galo de Barcelos", passando ao largo sobre seu simbolismo religioso. A exemplo do galo português, nosso tão cultuado "galo da Madrugada" dos carnavais recifenses, nasceu meramente como símbolo de folia (mais no resgate do frevo) em 1978, quando um bloco carnavalesco com pessoas fantasiadas de almas penadas, apoiadas por uma banda de frevo, percorriam as ruas do bairro São José, em Recife. Assim nasceu o "Galo da Madrugada" (NE10, 2022).
Porém, ao menos para os cristãos, que no Brasil cultuam os escritos Bíblicos desde os ensinamentos orais em latim, repassados pelos primeiros clérigos que aqui aportaram a partir do Séc. XVI, possuem de certa forma uma rasa identificação com o galo símbolo do renascimento, esperança e ressurreição, a exemplo da águia e do cordeiro. Há lendas ancestrais que creem num galo que cantou à meia noite, anunciando o nascimento de Jesus, daí um dos motivos para "Missa do galo" ser à meia noite do dia 24 de dezembro. Teria sido a única vez que um galo teria cantado à meia noite. A origem remonta ao Séc. IV, que sob forte influência do Constantino, passou-se a admitir a fusão de alguns cultos pagãos aos cultos cristãos, já que Constantino era sincretista. O culto ao "deus Sol" teria, então, se fundido ao culto ao nascimento de Cristo (CONCEIÇÃO, 2022).
A representação simbólica do Galo no "Livro da Lei"
Utilizada como "Livro da Lei" em lojas de maioria cristã (poderia ser outro livro), a Bíblia Sagrada Cristã possui algumas citações acerca do galo. No entanto, curioso citar que, de acordo com costumes da época, descritos no Antigo Testamento, a definição do galo não se mostrava exata, pois era comum os Hebreus se referirem ao galo, todo animal macho das espécies galiformes, nos quais a biologia reconhece mais de 70 gêneros, e mais de 250 espécies de galiformes, que também abrange os perus, perdizes e mutuns (ADW, 2022). De qualquer forma, nos "Ditados de Agur" a figura do Galo já se fazia descrita, não num conceito ainda virtuoso, mas com imagem meramente garbosa.
"Há três seres de andar elegante, quatro que se movem com passo garboso: o leão, que é poderoso entre os animais e não foge de ninguém, o galo de andar altivo; o bode; e o rei à frente do seu exército" - Provérbios 30:31 (BÍBLIA, 2019, p. 691). |
São em alguns livros do Novo Testamento, que a figura do galo mais presente (na verdade com passagens quase idênticas), cujo simbolismo atravessa gerações de estudiosos em Teologia, bem como pregadores que repassam ensinamentos aos seus próximos. Algumas passagens mais marcantes, referentes à figura do galo, são destacados nos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João, com a seguinte "informação" em comum sobre a traição de Pedro: "Respondeu Jesus: "asseguro-lhe que ainda hoje, esta noite, antes que duas vezes cante o galo, três vezes você me negará" - Marcos 14:30 (BÍBLIA, 2019, p. 691).
Com base em costumes e leis da época, alguns estudiosos veem como metáfora o canto do galo descrito nos quatro livros dos evangelistas, pois se empregou o verbo grego "fonéo" (ressoar), o que poderia se referir a algum instrumento de sopro, como uma trombeta, no emblemático episódio de "traição de Pedro", em Jerusalém. Em complemento a essas "suspeitas", havia uma recomendação do código de leis judaicas (Mishnah), quanto à restrição de animais em Jerusalém, dentre esses os galos (CASONATTO, 2022).
Independente da veracidade dos fatos, o que importa é a fé e o simbolismo, que com efeito de "freio moral", e/ou estímulo à perseverança e fé, acalenta o coração de quem prefere vislumbrar a figura do galo como um meio de manter a mente e a consciência focada na representatividade moral da referida figura, que alimenta nosso espírito para a manutenção da paz e esperança.
O Galo: reflexões acerca da vigilância e da perseverança
Ao se deparar com a garbosa, bela e imponente figura do galo, podemos, sim, refletir e fazer significativa interpretação pessoal e maçônica.
"VIGILÂNCIA E PERSEVERANÇA", que denotam as características do simbolismo que o Galo representa em diversas outras culturas, pelo mundo, ao longo dos séculos.
A VIGILÂNCIA pode nos remeter ao valioso conselho de Jesus à Pedro, que não o acompanhava em oração. "[..] Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (BÍBLIA, 2009, Mt 26:40, p. 1048).
A PERSEVERANÇA seria o complemento da VIGILÂNCIA, denotando a persistência nas boas práticas, boas obras, nos bons estudos, que concomitante à prática da resiliência, nos ajudam a superar as dificuldades que, naturalmente, se apresentam na busca dos resultados pretendidos.
Além do aspecto altivo, tenaz e belo, a figura do Galo nos traz a imagem de "renascimento". Ao observá-lo, pode-se lembrar de seu canto anunciativo, nos despertando para um "novo dia". Logo "nascerá o sol", e teremos mais uma oportunidade, mais um dia pela frente, um novo presente. Lembramos também da sua quase onipresença em cataventos, em filmes, HQ"s (revistas em quadrinhos) e cartoons infantis (desenhos animados), que ludicamente nos ensinam, desde cedo, pelo seu modus vivendi, que alguns valores podemos aprender com sua figura.
Em sociedades de cultura pouco evoluída, o admirado "guerreiro de rinha" tem lugar cativo no imaginário popular como um animal destemido, que nunca recua, com coragem e demonstração dissuasória, como quando "alfa" em plantel galináceo, contra quem ou o que lhe ameaçar invadir o território sob seu domínio, demonstrando um ser atento, vigilante, que nunca cessa o controle sob seu o terreiro, estando sempre pronto a agir para manter o equilíbrio em seu habitat. A imagem do guerreiro "defensivo e justo" se faz presente no imaginário popular.
Da mesma maneira como o canto do Galo anuncia a chegada do Sol para um novo despertar, simbolicamente, ele também anuncia a chegada de uma era de nova consciência, a consciência da VIGILÂNCIA permanente, constante, se sustenta na PERSEVERANÇA. D'Elia Junior (2019, p. 108) denomina "Vigilância Cuidadosa" e "Vigilância Espiritual.
CONCLUSÃO
Em diversas ocasiões da vida, passamos por momentos de "batizado" ao adentrarmos em algum grupo, instituição, irmandade, confraria, grupo ou clube, onde aqueles que nos identifica como "semelhantes" nos acolhem, por pertencimento e vontade de que estejamos em sintonia, na busca de desenvolver ou praticar algo em comum.
Na Maçonaria não seria diferente, porém com objetivos muito mais nobres e mais fraternais. Para tanto, temos que ter condições mínimas, sendo inicialmente "livres e de bons costumes", condição sine qua non para quem se propõe a receber nobres ensinamentos, onde a partir daí o homem bom buscará ser um homem melhor para a humanidade.
A figura do Galo, em diversas culturas, está simbolicamente ligada ao renascimento (principalmente para os cristãos), à nobreza, ao caráter, a altivez, o destemor e a coragem. Aquele ser que anuncia a boa nova, um novo dia, uma nova oportunidade em recomeçarmos. João 3;3-8 nos lembra acerca do nascimento da água e do espírito. Da "masmorra" para a "luz", o renascimento do neófito para saberes sublimes.
"De onde viemos"? "Onde estamos"? "Aonde queremos chegar"? O que não podemos é nos furtar em buscarmos, intimamente, por respostas. Na figura do Galo, simbolicamente busquemos nos assentar na crença de que, com o "RENASCIMENTO", todas as respostas nos serão reveladas, de acordo com nossa vontade em adquiri-las pelo profundo estudo. É a vitória pelo mérito advindo do esforço e pela PERSEVERANÇA.
Perante as questões elencadas anteriormente, após o "NASCER DE NOVO", a VIGILÂNCIA e PERSEVERANÇA devem estar constantemente sendo lembradas e "praticadas" em todos os momentos da vida, na busca do saber filosófico e resoluções em cotidiano de trabalhos/estudos, principalmente em situações de dificuldades decorrentes das vicissitudes, quando a resiliência também deve se fazer presente.
A busca do simbolismo acerca da figura do Galo, aqui não se esgota, não se conclui, mas sim permanece amplo o "terreno fértil" de pesquisa sobre seu simbolismo. A natureza tem muito a nos ensinar. O Divino Pai não cria nada em vão, desde a necessidade de harmonizar a cadeia vital na natureza, até a exposição de virtudes naturais, explanados de forma sutil, pelo comportamento animal, em nossa rica fauna e flora terrestre. A nós, resta-nos observar, elaborar conceitos, propagar ensinamentos e enriquecer a alma.
É meia-noite, meus Irmãos e em breve o galo vai anunciar um novo dia! |
Ir... LUCIANO GONÇALVES RODRIGUES, Companheiro Maçom
REFERÊNCIAS
ADW, Animal Diversity Web. University Of Michigan - Museum Of Zoology . Disponível em:
ARQUIVO, O. Abraxas. Símbolos e Objetos. Disponível em:
BARCELOS, Município. A lenda do galo. disponível em
BÍBLIA. Português. Bíblia da Mulher que Ora NVI. 1.ed. São Paulo-SP: Mundo Cristão, 2009.
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. Editora Pensamento, SP: 1979.
CAMINO, Rizzardo da. Introdução à Maçonaria. 3º vol..ed. São Paulo-SP: Aurora, 1975.
CAMINO, Rizzardo da. Vade-Mécum do Simbolismo Maçônico. 9.ed. São Paulo-SP: Madras, 2018.
CASONATTO, Odalberto Domingos. Sítio "A BÍBLIA". Disponível em
CONCEIÇÃO, Paróquia da N. S da. Missa do galo. Disponível em:
D"ELIA JUNIOR, Raimundo. 100 instruções do aprendiz. 9.ed. São Paulo-SP: Madras, 2019.
DE SOARES, Alexandre Guimarães Tadeu. O sentido da cogitatio em A busca da verdade de Descartes. Educação E Filosofia, v. 25, n. Especial, 2011.
ETIMOLÓGICO, Dicionário. Etimologia e Origem das Palavras. Disponível em
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KAWANAMI, Silvia. As diferenças entre o horóscopo chinês e japonês. JAPÃO EM FOCO. Disponível em
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MIURA, Yasuko. O que é Tori-No-Ichi. Revista eletrônica japonesa "ALL ABOUT". Disponível em:
MIMOSO, João Manuel. O galo NO TEMPO–uma história da evolução do galo de Barcelos. Retirado de https://www. popgalo. com/docs/galo_ JMMimoso_PT. pdfMimoso, 2016.
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NETO, Italo Diblasi. Um deus de muitas faces. A crença em Abraxas do Ambiente Mágico ao Gnosticismo (Séc. I-IV EC). UFRJ. Rio de Janeiro-RJ. 2017
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SETO, Claudio. Portal NIPPO BRASIL. Disponível em:
Loja Miguel Archanjo Tolosa